Critério Técnico
A destinação segura das estruturas de exploração e produção de óleo e gás e seus componentes, após o término da fase produtiva de um campo, demanda uma análise conjunta de variáveis multidisciplinares, cujo objetivo é determinar a alternativa de descomissionamento mais adequada. Essa análise torna-se mais eficaz com a utilização de uma metodologia de análise multicritério, onde parâmetros técnicos são também considerados e ponderados junto com outras variáveis.
O Critério Técnico faz parte de um conjunto de critérios de avaliação utilizados pela indústria de óleo e gás na tomada de decisão em projetos de descomissionamento. Este critério busca avaliar a viabilidade de execução das atividades e operações que compõem as alternativas de descomissionamento consideradas em cada cenário. A viabilidade de execução, comumente chamada de viabilidade técnica, pode ser mensurada a partir da complexidade das operações e do risco tecnológico atrelado à sua execução, sendo estes definidos como subcritérios de avaliação.
Objetivo e Escopo
O Critério Técnico tem como principal objetivo avaliar a viabilidade técnica das alternativas de descomissionamento. Essa viabilidade é baseada em um conjunto de fatores que abrangem as características dos equipamentos, o cenário de descomissionamento, a expertise da indústria na alternativa avaliada e a disponibilidade de recursos e tecnologia necessários para sua execução.
Portanto, o Critério Técnico busca corroborar com a metodologia de análise multicritério no suporte à avaliação técnica das alternativas consideradas, com o objetivo de apoiar os tomadores de decisão na elaboração de programas de descomissionamento.
Subcritérios Adotados
O Critério Técnico compõe-se de dois subcritérios, possibilitando uma análise mais detalhada e aprofundada dos aspectos técnicos de cada alternativa de descomissionamento. Os subcritérios procuram refletir tecnicamente o cenário de análise, sua complexidade operacional e os riscos tecnológicos envolvidos na operacionalização das atividades de descomissionamento.
A seguir os principais subcritérios adotados:
Subcritério 1
Complexidade da Operação e seus fatores
Lâmina d’água: Entende-se que a lâmina d’água (LDA) corresponde à profundidade em que se encontra a estrutura a ser descomissionada, sendo um fator essencial para avaliar a complexidade da operação. Sabe-se que LDAs de maior profundidade podem apresentar maiores desafios para o descomissionamento.
Diâmetro: Corresponde ao diâmetro nominal da linha, relacionando-se diretamente ao seu peso e dimensões, podendo ser um fator de elevada complexidade quando há a necessidade de corte, por exemplo.
Peso linear: Corresponde ao diâmetro nominal da linha, relacionando-se diretamente ao seu peso e dimensões, podendo ser um fator de elevada complexidade quando há a necessidade de corte, por exemplo.
Extensão Total: Fator aplicado aos dutos rígidos e linhas flexíveis. Impacta em maior complexidade não só pelo maior número de intervenções necessárias (em operações de corte, por exemplo) mas também por influenciar diretamente na duração das atividades.
Condição de Limpeza: Neste fator avalia-se o impacto da condição de limpeza das estruturas na complexidade das operações, uma vez que, a depender da condição de limpeza, podem ser necessárias operações adicionais para garantir a segurança operacional e mitigar riscos de vazamento. Corresponde ao status de condição de limpeza que a estrutura a ser descomissionada se encontra, dependendo do tipo de fluido circulado e da integridade estrutural que possibilite determinada operação de limpeza.
Extensão Soterrada: Relaciona-se à porção da linha/duto que se encontra soterrada, impactando a complexidade da alternativa de descomissionamento considerada, uma vez que, a depender da profundidade e extensão de enterramento, bem como da alternativa avaliada, uma operação adicional de desenterramento deverá ser realizada.
Integridade Estrutural: Considera não só as condições atuais de danos estruturais, como também tempo e histórico de operação e de falhas. A integridade comprometida aumenta a complexidade da operação e pode tornar alguma alternativa de descomissionamento inviável.
Cruzamentos (por cima e por baixo): Estes fatores estão relacionados à avaliação da existência de dutos ativos ou inativos cruzando a tubulação a ser removida. A quantidade de cruzamentos influenciará diretamente na complexidade da operação, uma vez que um número maior de intervenções poderá ser necessário.
Acréscimo Esperado de Carga no Içamento: Relaciona-se com a força de sucção ocasionada pela interação entre o equipamento e o solo marinho. A resistência gerada por essa interação resulta em um acréscimo de carga durante a atividade de içamento de um equipamento, elevando a complexidade da operação envolvida.
Dimensão do Equipamento: Relaciona-se diretamente com a complexidade da operação, uma vez que as dimensões do equipamento afetam diferentes atividades, como a de corte e/ou içamento, por exemplo.
Peso do Equipamento: Relaciona-se diretamente com a complexidade da operação, uma vez que o peso do equipamento afeta as atividades relacionadas ao içamento, por exemplo.
Subcritério 2
Risco Tecnológico e seus fatores
Ineditismo das Operações no setor de O&G: Busca avaliar a experiência nacional e internacional na execução da alternativa avaliada bem como sua maturidade e histórico de execução no setor de O&G, com base em aplicações anteriores em outros projetos comparáveis.
Restrições Logísticas: Busca-se avaliar a existência e a disponibilidade dos recursos necessários, tanto no âmbito nacional como internacional. São avaliados não só aspectos relacionados às embarcações como também às tecnologias de corte, içamento, entrincheiramento, entre outros.
Histórico de Execução pela Operadora: Busca-se avaliar a existência e a disponibilidade dos recursos necessários, tanto no âmbito nacional como internacional. São avaliados não só aspectos relacionados às embarcações como também às tecnologias de corte, içamento, entrincheiramento, entre outros.
Risco de Insucesso na Execução das Operação: Relaciona-se ao risco de falha na execução das operações inerentes à alternativa avaliada no cenário em questão. Neste fator, avalia-se também a recuperabilidade em caso de insucesso na execução das operações. Está associado ao equipamento e cenário em questão.
Sensibilidade às Condições Meteoceanográficas:Relaciona-se ao risco de falha na execução das operações inerentes à alternativa avaliada no cenário em questão. Neste fator, avalia-se também a recuperabilidade em caso de insucesso na execução das operações. Está associado ao equipamento e cenário em questão.
Aplicação da Metodologia
A metodologia do Critério Técnico segue 6 passos:
- Inventário de estruturas, onde há a identificação e quantificação dos ativos a serem descomissionados, assim como a caracterização destes em relação à Lâmina d’água, Peso, Diâmetro, Dimensão, Extensão total, Extensão Soterrada e Cruzamentos;
- Determinação das condições de integridade e limpeza, por meio da coleta de informações presentes em relatórios de inspeção, manutenção ou abandono;
- Avaliação das particularidades do cenário abordado, objetivando otimizar a análise por meio de agrupamento/separação das estruturas e fornecer suporte na definição das alternativas a serem consideradas para a análise multicritério.
- Definição das atividades presentes em cada alternativa, conforme o cenário avaliado;
- Definição dos graus de importância de cada fator em relação a uma operação específica para a análise do subcritério Complexidade da operação e seleção dos níveis de risco para a análise do subcritério Risco tecnológico.
- Agrupamento dos resultados para análise comparativa e aplicação da metodologia multicritério.
Considerações
O critério técnico busca de forma objetiva avaliar a viabilidade técnica das alternativas de descomissionamento. Trata-se de um critério sensível às particularidades dos equipamentos e dos cenários em que se encontram e, portanto, demanda-se uma avaliação caso a caso para a tomada de decisão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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